sábado, 14 de maio de 2011

Pacificação

Polícia ocupa Morro Azul, no Flamengo, sem ajuda de UPP

Publicada em 11/10/2010 às 23h33m
Waleska Borges


Policial faz patrulha na comunidade do Morro Azul. Foto: Berg Silva - O Globo

RIO -Depois de anos controlado pelo tráfico, o Morro Azul, no Flamengo, não precisou da instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) para se livrar do poder armado da quadrilha. Após a morte do chefe da venda de drogas na favela, Renato Ferreira da Silva, o Red Bull, há cerca de 40 dias, a PM ocupou a área. Um antigo prédio da prefeitura, que estava desativado há quatro anos, serve agora como base para policiais do 2 BPM (Botafogo). Em paz, moradores torcem pela permanência da polícia no morro.

- Se essa parceria com a polícia não funcionar, vai morrer todo mundo. Foi a comunidade que pediu à polícia a ocupação da favela. Há anos eu esperava por esta tranquilidade - disse um morador, sem se identificar.

Repórteres do GLOBO estiveram, nesta segunda-feira, no Morro Azul. Sem a presença de homens armados ou bocas de fumo, moradores organizavam para hoje uma festa do Dia das Crianças, com apoio de comerciantes das redondezas. Na comemoração, acontecerá algo inédito na favela: estarão presentes integrantes da banda da PM e cães adestrados da corporação.

- Os traficantes que estavam no Morro Azul não eram da comunidade. Eles pertenciam à Rocinha e ao São Carlos (morro no Estácio). Com a morte do Red Bull, dizia-se que traficantes de uma facção rival (do Morro Santo Amaro, no Catete) planejavam ocupar a favela. Para impedir essa invasão, moradores pediram a presença da polícia - contou o cabo Marco Aurélio, do 2 BPM.

Segundo o cabo, que há 11 anos faz o patrulhamento da área, antes da ocupação, era comum corpos serem abandonados na comunidade, onde vivem cerca de 3.500 pessoas e que fica a apenas um quilômetro do Palácio Guanabara, a sede do governo estadual. Além disso, havia assaltos a residências nas imediações. Com a chegada da polícia, as pichações da facção criminosa que controlava o morro estão sendo apagadas.
Novo comandante manterá policiamento

Moradora da favela desde que nasceu, há 44 anos, a telefonista Leda de Souza do Carmo comemora a ocupação policial. Ela conta que o seu filho mais velho, de 23 anos, se envolveu com o tráfico local. Na época, ela sofria com bandidos que faziam disparos na porta da sua casa. Para retirar o filho do crime, Leda internou o rapaz numa clínica de recuperação.

- Depois que saiu da clínica, há dois anos, meu filho não voltou mais à comunidade. Agora, estamos em paz e ele poderá me visitar - disse Leda.

A aposentada Lucinda Jesus, de 86 anos, também está satisfeita:

- A presença da polícia está trazendo mais segurança e alegria para todos nós. Os policiais são bem-educados e as crianças gostam deles.

E não é só no morro que a tranquilidade foi percebida. A mudança na rotina de violência na favela também já foi constatada pelo delegado Alan Luxardo, da 9 DP (Catete):

- Volta e meia, aconteciam problemas no Morro Azul. Essa situação mudou nos últimos dias. O morro está controlado e os resultados têm sido positivos.

Apesar disso, a Associação de Moradores do Flamengo diz que, em algumas ruas do bairro, há queixas sobre violência.

- Os moradores da Rua Paissandu têm reclamado de assaltos. Mas, de uma forma geral, estão todos satisfeitos com a presença da PM no Morro Azul. Sempre defendemos a ocupação não só desta, mas de outras favelas da região, como a do Cerro-Corá (no Cosme Velho) - disse Leila Maywald, presidente da associação.

A ocupação do Morro Azul foi determinada pelo tenente-coronel Antonio Carlos Carballo Blanco, então comandante do 2 BPM, cargo hoje ocupado pelo tenente-coronel Antonio Henrique da Silva Oliveira. O novo comandante não pretende mudar o policiamento da favela.

- A nossa intenção é levar tranquilidade à comunidade. Vou visitar o local e saber as demandas dos moradores - disse.

Para o coronel Robson Rodrigues da Silva, comandante das UPPs, esse é um tipo de trabalho de prevenção e aproximação que, com o avanço das Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas onde o tráfico está mais arraigado, poderá ser executado em comunidades menores, por todos os batalhões do estado:

- O programa das UPPs é amplo, mas ele não vai contemplar todas as comunidades do estado. Em localidades menores, basta o trabalho de prevenção e proximidade com os moradores feito pelos próprios batalhões. Nesse caso específico, durante muitos anos, o maior problema do 2º BPM foi o Dona Marta. Agora, com a UPP, ele fica desonerado para fazer este tipo de trabalho em comunidades como o Morro Azul.

Segundo informações de policiais, o traficante Red Bull teria sido executado a mando de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico Rocinha, por causa de uma dívida muito alta. Nem fornecia cocaína ao Morro Azul, que era controlado pela mesma facção que domina a favela de São Conrado. O traficante morto chamava a atenção por usar um grande pingente que era uma réplica da lata do energético Red Bull.

Na década de 90, o Morro Azul foi reduto do traficante Marco Antônio Pereira Firmino da Silva, o My Thor, preso desde 2000. Ele foi condenado, em fevereiro de 2003, a 11 anos de reclusão em regime fechado, por homicídio. My Thor já tinha duas condenações anteriores, por tráfico de drogas. Em 1995, o Morro Azul foi palco de uma intensa troca de tiros entre traficantes e policiais. O confronto levou pânico a moradores de ruas vizinhas à favela. Na época, eles reclamaram de tiroteios frequentes.

Em janeiro do ano passado, PMs precisaram de picaretas, barras de ferro e marretas para destruir uma cancela construída por traficantes no Morro Azul. A intenção dos bandidos era dificultar o trabalho da polícia no morro.

COLABOROU Natanael Damasceno

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